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«Terra», de Alfredo Ferreiro, na derradeira Saudade

As minhas mãos têm a idade do universo

TERRA

Tudo haverá de acabar
onde tudo começou.
Eu próprio, que era apenas
um espírito sem carne,
só pelo sangue da terra
me consegui encarnar.
A ela devo tudo,
por isso a ela consagro
as mãos de ferreiro e camponês
que me entregou a família.
As mãos que de facto são
instrumento sagrado do coração,
as mesmas mãos
que seguram e esganam
o triste fantoche
com que brinca o destino.

Tenho terra nas unhas desde sempre,
terra velha que o poeta datou
no princípio do universo.
O deus que brincava com barro
e que sua mãe repreendia
pelas manchas que fazia no mundo,
esse deus a mim me criou
de um gesto fortuito,
de uma nódoa,
e para sempre fui
uma palavra perdida no infinito.

E vocês, instrumentos na procura
do certo afinador,
não veis a terra que pisais,
a terra que alberga o mundo,
a terra que vos aguarda
no retorno ao calor inicial?
Acarinhai a terra com as vossas mãos.
Nada há, viageiros, aquém e além,
salvo um caminho por desenhar
sobre a barriga maternal da terra.

Alfredo Ferreiro

Este ano, cun número tan simbólico como o 12, despídese a revista Saudade para sempre. Comandada polo amigo António José Queirós, contaba entre os redactores Amadeu Baptista, António Cândido Franco, Henrique Monteiro, Luís Amaro e Sérgio Pereira, todos eles, com mais e menos idade, nomes moi representativos da actual poesía portuguesa.

Foi un proxecto, como todos os do Queirós, caracterizado polo maior amor á lusofonía, en que á par dos mais os galegos sempre tivemos un espazo por dereito propio; algo que se torna consuetudinario grazas a actitudes fraternas como as do amigo de Vila Meã.

Neste último número, en que se nos propuxo como tema a “terra”, á par do Xosé Lois García e dos nomes xa citados publícanse poemas de Ana Luísa Amaral, Armando Silva Carvalho, Fernando Guimarães, Jorge Velhote, Maria Teresa Horta, Nuno Júdice, Vasco Graça Moura e Rosa Alice Branco, entre moitos máis.

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