Lembrança da professora de literatura
Porque a vida consiste em sucessivas mutações do amor, a Maria Díaz Vidal, in memoriam
Ó Maria, acho menos as tuas coxas
carregadas de poesia,
teus lábios de vénus aloirada
e teus quadris para sempre rimados
no meu coração.
Teus andares sinestésicos
forneciam a métrica semanal
do tambor literário que ardia
no meu peito, adolescente encavalgado
na metáfora encarnada
que às vezes imaginava
sob as meias florais de um sonho.
Porque é assim o amor e assim
se reveste de sexo para apontar mais alto
e fazer-nos vibrar
sobre os estúpidos cumes do convencional.
Porque o erótico é o grande catalisador
de tudo aquilo que cresce,
mesmo se não se tratar
das calças de um adolescente.
Agora sei que morreste, Maria,
e fico triste por não ter chegado a tempo
de te dizer o muito que gostava
das tuas pernas e das aulas de literatura,
e de como umas e outras
são só uma e a mesma cousa:
o desejo que provém da carne
e o prazer de escrever um verso que arde.