
Na esteira de Sefer Sefarad, de Pedro Casteleiro
Na apresentação de Sefer Sefarad, de Pedro Casteleiro, os poetas Alfredo Ferreiro, Táti Mancebo e Ramiro Torres leram textos próprios inspirados num poema do livro apresentado. O ponto de partida foram o verso “Nossa casa cheia de vozes enterradas nas paredes”, pertencente ao poema «A casa vazia». Ei os poemas recitados pelos amigos do autor:
Traição a Pedro Casteleiro
Nossa casa cheia de vozes
enterradas nas paredes.
Nossa casa de torrões,
de minhocas e verdades
perseguidas por toupeiras
cegadas pola razão
de seus dentes e suas garras.
Nossa casa lua cheia
de sonhos e serpentes.
Nossa casa oráculo mudo
de vozes que se prostram
e se erguem
sobre a terra que não dorme
que nos vela e não se rende.
Nossa casa cheia de nozes
penduradas das paredes.
Nossa casa de chocalhos,
amores que nunca morrem,
música que não perece.
Alfredo Ferreiro. Arteijo, 7 novembro de 2015.
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Nossa casa cheia de vozes enterradas nas paredes,
plena de um vazio sem pausa
quebrando os espelhos desde dentro,
na distância infinita de toda razão
que não se expanda como a luz
no interior dos músculos abertos:
eis-nos, entranhados e estrangeiros,
cavando no invisível com as mãos
em carne viva, avançando no eterno
habitado como pura palpitação do real.
Ramiro Torres. A Corunha, 5 de novembro de 2015.
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