
Homenagem a Eugénio de Andrade
Meu amigo F. D.
Vem o amigo e desatende aquilo que não bem tenho para dizer-lhe. Meu amigo é surdo perante quem melhor devia é ficar mudo. O amigo que me queima e me arrasta por uma encosta fascinante que arde.
Meu amigo é fiel, mas eu nem sei a quem. Talvez a uma musa que me elude e me não concede uma baila, ninfeta decorosa que não quer dançar com velhos corações artríticos e falsos.
Meu amigo conhece uma musa misteriosa que num lugar dança em que o tempo não corrompe nem o baile cansa. Meu amigo tem um poder estrangeiro que me assombra e lhe outorga forças estranhas, uma musa que me recusa, que nalgum lugar recôndito se abre como flor e oferece o seu fascínio, uma musa impenetrável, recôndita e próxima que me atrai até ao abandono extremo, me faz caminhar ao luar e esquecer o lugar em que moro.
Meu amigo guarda um segredo profundo. Um segredo que não confessa para proteger de mim o mundo.
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Em O sol é secreto. Poetas celebram Eugénio de Andrade. Organização: Carlos D’ Abreu, Luis Filipe Maçarico, Pedro Miguel Salvado. Póvoa de Atalaia, Fundão, Portugal: Câmara Municipal de Fundão e Casa da Poesia Eugénio de Andrade, 2019.