«A Coruña viu nacer ao poeta Ramiro Torres Maceiras un 15 de decembro de 1973, membro de Xalundes (Grupo Surrealista Galego) e colaborador en diversas xanelas comunicativas, fainos nesta entrevista un convite a mirar desprexuizadamente o que temos ao redor, liberándonos da negatividade e da tensión para descubrirmos a creatividade das xentes deste país.
“Hai unha néboa comunicativa por saturación que non nos deixa aproveitar a forza que temos e que está aí”…por nós non ha quedar.
Compartimos con Ramiro a nosa sección Conversas con… lembrando a necesidade de resgar o bloqueo da xente con respecto aos espazos de cultura e na procura da desacralización poética. Conseguirémolo? Unha tónica Schweppes, por favor…
Na apresentação de Sefer Sefarad, de Pedro Casteleiro, os poetas Alfredo Ferreiro, Táti Mancebo e Ramiro Torres leram textos próprios inspirados num poema do livro apresentado. O ponto de partida foram o verso “Nossa casa cheia de vozes enterradas nas paredes”, pertencente ao poema «A casa vazia». Ei os poemas recitados pelos amigos do autor:
Traição a Pedro Casteleiro
Nossa casa cheia de vozes
enterradas nas paredes.
Nossa casa de torrões,
de minhocas e verdades
perseguidas por toupeiras
cegadas pola razão
de seus dentes e suas garras.
Nossa casa lua cheia
de sonhos e serpentes.
Nossa casa oráculo mudo
de vozes que se prostram
e se erguem
sobre a terra que não dorme
que nos vela e não se rende.
Nossa casa cheia de nozes
penduradas das paredes.
Nossa casa de chocalhos,
amores que nunca morrem,
música que não perece.
Alfredo Ferreiro. Arteijo, 7 novembro de 2015.
*
Nossa casa cheia de vozes enterradas nas paredes,
plena de um vazio sem pausa
quebrando os espelhos desde dentro,
na distância infinita de toda razão
que não se expanda como a luz
no interior dos músculos abertos:
eis-nos, entranhados e estrangeiros,
cavando no invisível com as mãos
em carne viva, avançando no eterno
habitado como pura palpitação do real.
Ramiro Torres. A Corunha, 5 de novembro de 2015.
*
Nossa casa cheia de vozes enterradas nas paredes
Som de rocha, som de telha
Som tamém no fundo de uma botelha
Som de auga: pinga, pinga
Som de palha: malha, malha
Som de fume: lume, lume!
Som de branco, som de azul
O silêncio num baú
As serpes do dessasossego som
Requeixo abaixo ao lodeiro vou
Som de sonho, som de sono
Som de aqui, que aqui não tenho trono
que soe o som
Toc-toc
Som eu
Quem som
Eu som
O som.
Táti Mancebo. Arteijo, 7 de novembro de 2015.
*
Nota: O evento decorreu na “Librería AZETA”, da Corunha, a 8 de novembro de 2015. Participaram, para além destes poetas e de Pedro Casteleiro, Estefania Blanco e Tito Calviño, voz e guitarra respetivamente.
Ontem soubemos que um dos vultos da poesia europeia contemporânea, o poeta português Herberto Helder, iniciou o caminho de retorno. Se calhar ele nunca chegou a saber até que ponto foi o grande referente da poesia moderna para alguns de nós, neste pequeno país chamado Galiza que, sendo o berço certo da lusofonia, esquece cada dia a sua cultura enquanto sorve desesperado as essências da poesia. Somos assim, contraditórios até ao paroxismo, e isso talvez é que nos faz humanos e divinos, efémeros e eternos.
Obscuro e luminoso ao tempo, Helder foi um exemplo de compromisso com o trabalho interior que a poesia impõe, e que pouco tem a ver com a literatura, esse objeto mercantilizado que coisifica a espiritualidade da arte, mede o esforço, calcula os ganhos e contabiliza os aplausos: «[…] O prestígio é uma armadilha dos nossos semelhantes. Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo. Deve-se estar disponível para decepcionar os que confiaram em nós. Decepcionar é garantir o movimento. A confiança dos outros diz-lhes respeito. A nós mesmos diz respeito outra espécie de confiança. A de que somos insubstituíveis na nossa aventura e de que ninguém a fará por nós […]». Por isso nós hoje queremos escrever tão só umas breves linhas de homenagem, breves, seguindo a recomendação do mestre, porque é que a nós, mais do que a ele, dirão respeito. Read More
Lino García Salgado: «Por veces falar de poesía leva consigo determinados riscos, afortunadamente nada dramáticos, sobre todo á hora de enfocar a súa lectura ou no xeito no que determinados autores e autoras quedan encadrados en adxectivos tan esplendorosos dos que é difícil fuxir. Ramiro Torres escribe poesía surrealista, tal e como se desprende da súa propia definición ao formar parte do colectivo de escritores surrealistas galegos, mais… quizais isto non sexa o importante, non para el senón para quen tivemos a oportunidade de gozar dos seus poemas dende un punto de vista máis aséptico e acabamos descubrindo un mundo líquido que navega polos nosos interiores a pouco que nos deixemos.
Fóra dos retrousos típicos e tópicos teremos que devolver as formas aos seus comezos, tal e como sinala Ramiro en parte dun poema de Esplendor Arcano. E como de xerme vivimos tamén dos seus versos podemos respirar en plenitude unha chuvia variada de vocabulario tan diverso como ben empregado dando apertura, en case todo o libro, a historias paralelas que semellan competir nunha carreira de fondo para ver quen chega antes ao padal do/a lector/a. Pero non soamente somos illas senón fontes bravas de materia configurando esa materia do universo que é a nosa medula sen dividir a parte máis vexetal da ósea. Perpetuar os hábitos encol da imaxinación nutre o perfil arcano que temos e no que Ramiro incide dun xeito valente e decidido, onde se recobra a efervescencia natural que nos fai sacudir de frío as arterias obstruídas dando paso á beleza desa ascendencia solar da que nos fala.
Somos uma linha obscura
no céu inverso da razão,
videira do estranho que
avança sob as nossas unhas
até desarmar o cognoscível
com fragmentos de noite
e astros incendiados neste
caminharmos sem pausa,
abraçados à vertigem, nus
na terra derramada como
âmbito de um início anterior
a todo o saber embriagado
em que vibram sóis inextintos.
Esta é primeira colaboração inter-artes Galiza – Portugal, A Besta e Revista Palavra Comum, com música de DESLIZE (Hélder José e João Sousa) e poema de Ramiro Torres (do seu livro Esplendor Arcano, publicado no Grupo Surrealista Galego). O vídeo é de João Sousa (com a colaboração de Ana Sêrro).
A Besta é um colectivo editoral independente de música alternativa, com princípios assentes na filosofia do it yourself.
DESLIZE é um projecto de exploração acústica, composto por duas guitarras complementadas com crocodilos de electrónica, colocados estrategicamente em diferentes pontos de vibração das cordas, produzindo assim alterações de timbre constante. Os DESLIZE são: Hélder José (guitarra clássica) e João Mendes de Sousa (guitarra acústica).
Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no nosso website. Ao navegar neste website está a concordar com a nossa política de cookies.ContinuarSaber mais
Privacidade & Política de Cookies
Privacy Overview
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.