Sigo quanto posso –não quanto quero– os debates culturais últimos entre galegos e portugueses, e acho na sua existência um potencial para a Galiza (país, nação, comunidade de cultura, o que quer que seja) de primeiro ordem, significando a alternativa a uma castelhanização dia após dia mais profunda. Sangue novo para um corpo velho. Mas a situação nem deixa de ser complexa e mais talvez do que em ocasiões se reconhece.
Muito difícil deve resultar para os portugueses e outros membros da lusofonia topar com certas atitudes de galegos que, vendo a sua cultura progressivamente substituída pela castelhana, demonstram uma arrogância pouco amável e demasiado exigente com quem deles se aproximar com interesse sincero de debate. A língua galaica, em franca decadência, agonia em sua casa enquanto suas filhas legítimas nem a reconhecem como mãe. Isto é uma realidade, a meu ver, alimentada pelos gerentes habituais dos bens desta senhora, que desejam para ela uma morte «digna» e solitária.
Uma realidade que, infelizmente, apenas a uma pequena parte de conscientes galegos preocupa. Estes últimos têm lutado até a altura contra esta doença com as armas de que dispunham, e entre elas a linguística europeia, que fundamenta a teoria reintegracionista. Ora, é preciso reconhecer que a realidade linguística não tem muito a ver com a realidade social. Este facto leva com demasiada frequência a acharem em Portugal as atitudes galegas como paranoicas. Não pode ser de outro modo. Os galegos profundamente preocupados com este problema apresentam a sua fome de lusofonia salvífica com gritos e pancadas, como o nadador esgotado que mais parece desejar afogar do que ser resgatado pela equipa de salvamento. Assim as coisas, alguns galegos se acham entre uma dura realidade sócio-cultural adversa e a verdade científica (linguística) e, lutando com apenas uma adaga sem gume, alimentam as suas ânsias no fundamentalismo. Quer dizer, atendendo só a verdade fundamental (que acham linguística), e pouco as verdades circunstanciais (sociais).
No final, tão injusto é os portugueses sofrerem o desespero dos galegos quanto os galegos sofrerem a anti-galeguidade que nasce, desde há séculos, à sua volta e ainda em sua própria casa.
Porém, uma atitude nova, mais equilibrada, estimo quer surgir na Galiza. Alicerçada na verdade de suas certas raízes, mas consciente da imagem oferecida ao exterior.